Quando se perguntava à minha Avó como é que ela estava, sistematicamente era desfiado o rosário das queixas. Desde os bicos de papagaio até à solidão da viuvez, tudo era exposto com um ar (a condizer) de profundo pesar, que tinha um estranho eco na expressão de atónita consternação do quase interlocutor (quase pois na realidade não chegava a ser, era apenas um ouvinte), que rapidamente se tentava escapar esmagado por tanta desgraça.
Quando, algures no tempo (numa época em que ainda não lhe chegava ao ombro), ouvi perguntar à minha Mãe como ela estava, constatei surpreendida (ao tempo achava que as mães sabiam tudo) que também ela falou de gripes e anginas. Puxei-lhe pela ponta do casaco e disse-lhe um segredo: "Mãe, a senhora apenas quer ouvir que estamos todos bem obrigada".
Tudo na vida passou a estar sempre bem, ao ponto de me ter enganado num velório e em vez do tradicional "os meus sentimentos" ter dito "os meus parabéns". Confesso que o pânico do engano apenas foi diminuido pela resposta mecânica, idêntica a todas as anteriores, "muito obrigado pelo seu apoio".
Anos de postais sempre com as mesmas saudades, de derrotas com meio sorriso (sem lágrimas, porque um líder não chora) e vitórias contidas sem risos (nobres, no dizer de alguns, para não incomodar publicamente o adversário) quase pedindo desculpa por estar em primeiro.
"Estás boa?"
sim
"nós por cá todos bem"
Heritages
Quando o Manel, a mary (very) light e a Catarina se juntaram a nós trouxeram um pequeno enxoval: umas pequenas coisinhas que já tinham escrito por aí...
Esperamos que venham outros, mas por agora trouxeram estes dois blogues:
Neste fantástico 20 de Julho de 2010, decorrido mais de um ano desde que alguém se dignou por aqui escrever qualquer coisinha, a Maria juntou-se a nós e trouxe o seu enxoval:
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