Wednesday, 29 October 2008


Lisboa tem um vestido azul feito de mar e guerra.


E cheira a laranjas maduras.


Quando as gaivotas trazem no bico
os primeiros pedaços de sol para acender o dia,
Lisboa deixa correr os cabelos pelo Tejo
e o povo pelas ruas.


À mesma hora, a coragem agita
no sangue duas grandes asas inquietas.


Por todas as janelas destruídas, já o mar entrou,

derrubando acácias,

cantando hinos de espuma


E porque toda a coragem é necessária,
toda a esperança é legítima.





Chamar-te a ti, Lisboa, camarada,

e depois, eu sei lá, enlouquecer.

Que a loucura é quase um grão de nada

e tu tens um nome de mulher.



Vou dizer que és a minha namorada.

Devagar. Não vá alguém saber

que fizemos amor de madrugada

e tu trazes um filho por nascer.



Se eu inventar de noite a liberdade

de poder beijar-te os olhos e morrer,

no teu ventre não há fado nem saudade

mas apenas os filhos que eu fizer.



E pode ser que eu guarde a tempestade

de ter que aqui ficar. E então dizer

que sobre a minha boca ninguém há-de

pôr rosas de silêncio, se eu quiser.




(este e outros poemas, cantados por Carlos Mendes, são, de facto, a única e verdadeira razão porque persisto em manter um gira-discos que nunca uso)


2 comments:

guest said...

"Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura"
:-)

ilusoes said...

lindo!
e gostei do rever (ou será re-ouvir?!) em Palmela
:)