Lisboa tem um vestido azul feito de mar e guerra.
E cheira a laranjas maduras.
Quando as gaivotas trazem no bico
os primeiros pedaços de sol para acender o dia,
Lisboa deixa correr os cabelos pelo Tejo
e o povo pelas ruas.
À mesma hora, a coragem agita
no sangue duas grandes asas inquietas.
Por todas as janelas destruídas, já o mar entrou,
derrubando acácias,
cantando hinos de espuma
E porque toda a coragem é necessária,
toda a esperança é legítima.
Chamar-te a ti, Lisboa, camarada,
e depois, eu sei lá, enlouquecer.
Que a loucura é quase um grão de nada
e tu tens um nome de mulher.
Vou dizer que és a minha namorada.
Devagar. Não vá alguém saber
que fizemos amor de madrugada
e tu trazes um filho por nascer.
Se eu inventar de noite a liberdade
de poder beijar-te os olhos e morrer,
no teu ventre não há fado nem saudade
mas apenas os filhos que eu fizer.
E pode ser que eu guarde a tempestade
de ter que aqui ficar. E então dizer
que sobre a minha boca ninguém há-de
pôr rosas de silêncio, se eu quiser.
(este e outros poemas, cantados por Carlos Mendes, são, de facto, a única e verdadeira razão porque persisto em manter um gira-discos que nunca uso)
2 comments:
"Lisboa menina e moça, menina
Da luz que os meus olhos vêem, tão pura
Teus seios são as colinas, varina
Pregão que me traz à porta, ternura"
:-)
lindo!
e gostei do rever (ou será re-ouvir?!) em Palmela
:)
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